Junior Oliveira: “Em 10 anos de Workdance aprendi a lidar com o outro”

Professor de ballet clássico e jazz, Junior Oliveira comanda, há dez anos, o projeto Workdance, que tem como propósito levar a dança para o interior da Bahia. Hoje, o programa já é consagrado em 14 cidades, e em sete* delas, a ação atual possui apoio financeiro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult) através do edital Setorial da Dança. Mesmo assim, Junior garante que vai continuar levando o Workdance Bahia afora mesmo com recursos próprios, como vinha fazendo antes. De novidade para 2016 temos a reedição do Workdance Competition, modalidade competitiva que estreou ano passado, e um curso de preparação para professores de dança nas cidades do interior, que ainda vai começar.

De onde veio o ‘estalo’ para você criar um projeto de dança pelo interior da Bahia?

Junior: Partiu da necessidade da inclusão da dança no interior da Bahia, e da necessidade de me formar melhor como professor. Um bom bailarino pode não ser um bom professor, ou coreógrafo, e vice-versa. Eu acho que o estudo e a pedagogia fazem a diferença, e percebi mais ainda quando entrei na Faculdade de Dança da Universidade Federal da Bahia. Eu quis explorar mais esse lado teórico, mesmo já dando aulas em escolas de ballet há muitos anos. Daí, em 2006, eu resolvi colocar a teoria em prática nas cidades do interior do estado, começando por Senhor do Bonfim, porque lá a arte chega com alguma dificuldade.

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Aula de ballet clássico (Foto: Workdance / Divulgação)

O que aconteceu nesses 10 anos?

Junior: Nesses 10 anos de projeto aprendi a lidar com outro, com a leitura que o outro tem do projeto e da sua imagem. Por causa disso eu inclusive mudei minha forma de me vestir, de me apresentar aos pais no final do projeto, sabia? Algumas pessoas ainda vêem uma forma mais informal de vestimenta com desleixo, especialmente no interior. Então me adaptei a essa realidade. O projeto é voltado para o interior do estado, com a cultura e arte. atendemos a 14 cidades e nesse ano vamos atender a mais duas capitais. Hoje já temos até outros projetos nas cidades que não apenas culturas. Em algumas cidades ficamos uma semana, em outras ficamos 12 dias… Depende da disponibilidade.

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O professor Junior Oliveira (Foto: Acervo pessoal)

E como é a apresentação aos pais?

Junior: Nos finais das oficinas sempre realizamos uma mostra, uma apresentação de dança aos pais. Às vezes até os prefeitos das cidades comparecem. Tem algo curioso: os professores premiam os alunos que mais se destacam na oficina. Mas essa premiação não tem caráter competitivo, é apenas para fazer com que os alunos se superem e busquem aprimorar o desempenho. Normalmente esse prêmio é um artigo de dança, como sapatilhas. Mas mesmo sendo algo pequeno, os alunos ficam enlouquecidos!

 

Qual é a sua proposta com o Workdance?

Junior: Eu venho do ballet clássico, e uma das coisas que proponho é a gente ver até onde podemos chegar na dança com os nossos corpos. Além disso, gosto de discutir e desconstruir o papel do gênero no ballet. E até mesmo os contos de fadas, né, que é tudo mentira. Não é só o homem que precisa ser a força na dança, por exemplo. E não é só a mulher que pode ser delicada.

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Apresentação pós-oficina (Foto: Workdance / Divulgação)

Você já percebeu algum aluno ou aluna que poderia ter futuro na dança?

Junior: Sim, e estamos com projetos para lançar esses alunos e alunas. Em 2015 tivemos a primeira edição do Workdance Competition, esse sim um projeto de competição. Nele, contemplamos quatro bailarinos do interior para ficarem aqui em Salvador com tudo pago no mês de janeiro. Eles fizeram cursos, foram a apresentações… Fizeram teste para a escola de Dança da Funceb, também. Os cinco alunos que fizeram – um outro menino veio só para fazer o teste – passaram, mas hoje só dois estão cursando. As meninas voltaram para o interior porque passaram no vestibular. São coisas da vida que acontecem, as pessoas mudam de ideia, percebem que dançar não é bem o que elas querem… Enfim. Meu papel é levar a dança para quem não conhecia, e abrir portas para as pessoas.

 

Veja mais fotos:

*As cidades que contam com o aporte financeiro do Governo do Estado da Bahia no edital de 2014 são Senhor do Bonfim, Santo Amaro, Itabuna, Valença, Jacobina, Miguel Calmon e Alagoinhas.

 

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