Márcia Jaqueline deixa TMRJ e vai para austríaco Salzburg Ballet

Após 20 anos como bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, dez deles como primeira bailarina, Márcia Jaqueline aceitou a proposta do Salzburg Ballet, na Áustria, e vai deixar o Brasil para abraçar essa nova oportunidade.
A gente fica com o coração meio apertadinho ao ver mais uma estrela brasileira precisando sair do país para brilhar, mas felizes em ver que nossos artistas vão crescer e levar mais beleza para outros lugares do mundo!
Confira abaixo a despedida que a bailarina fez em suas redes sociais:

“Há exatamente 20 anos, com apenas 14 anos, ingressei ao Corpo de Baile do Teatro Municipal, onde sou Primeira Bailarina desde 2007. Sempre sonhei em fazer a minha carreira nessa casa que tanto amo, nunca pensei em ir embora. No entanto, na triste situação que nos encontramos, não posso desanimar. Preciso continuar minha caminhada e alçar novos vôos… Fui convidada a fazer parte do Ballet do Teatro de Salzburg na Áustria. Uma grande oportunidade nesse momento da minha carreira de dançar ballets criados especialmente pra mim. Isso não é um adeus, é apenas um até logo… O bom filho sempre retorna à sua casa!!!

Talvez não existam palavras suficientes e significativas que exprimam minha gratidão a algumas pessoas que, como verdadeiros anjos, me ajudaram ao longo da minha vida. Gostaria de agradecer primeiramente a Deus pelo dom que me deu, minha família, em especial meus pais Lizie Xavier Araújo e Manoel, meu marido Guilherme Tomaselli Gomes, minha primeira professora Vania Reis, a Escola de Danças Maria Olenewa, em especial Tia Regina e Tia Amelinha ( in memoriam ), Tia Edy e Marialuisa Noronha, meus amigos do Theatro Municipal, a todos os diretores e ensaiadores com quem tive a honra de trabalhar durante esses anos, a Ana Botafogo e Cecília Kerche que tiveram a generosidade e sensibilidade de me apoiar nesse momento, ao grande amigo Reginaldo Oliveira,que nesse momento me convida para partilhar esse grande projeto na Áustria!!
E para finalizar , minha reverência e gratidão ao público que sempre me recebeu com tanto carinho.

Até Breve!”

Márcia Jaqueline: “O Theatro Municipal do Rio de Janeiro é feito de tradição”

Primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Márcia Jaqueline é uma das bailarinas brasileiras mais bem-sucedidas aqui no país. Ela começou seus estudos de ballet clássico na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa e, aos 14 anos de idade, formou-se e foi logo chamada pelo Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ) para trabalhar como bailarina estagiária. O convite partiu do então diretor Jean-Yves Lormeau. Ela foi tão bem que, dois anos depois, foi contratada para o corpo de baile do TMRJ – instituição que ela nunca deixou. Aqui ela fala um pouquinho sobre sua carreira, com o é ser dançarina no Brasil, momentos marcantes no palco e fora dele… E algumas coisinhas a mais!
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Márcia Jaqueline como Kitri, em Dom Quixote
Ser primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro é coisa para poucas. Acha que o cargo vem com um ‘peso’ da tradição?
Com certeza, eu estou numa companhia onde Bertha Rosanova foi primeira bailarina, e outros grandes nomes da dança brasileira, como Cristina Martinelle, Aurea Hammerli, Nora Esteves, Ana Botafogo, Cecília Kerche…O Theatro Municipal é feito de tradição e ser primeira bailarina hoje me faz querer continuar escrevendo essa história que há anos vem sendo construída, sempre respeitando os que começaram esse trabalho.
Muitos bailarinos e bailarinas brasileiros estão decidindo sair do país para conseguir apostar em suas carreiras. Continuar no Brasil é um ato de resistência?
Eu acho que não somos valorizados o tanto que merecemos. Os bailarinos que estão aqui são incríveis, mas estamos sempre precisando superar alguma dificuldade que nos é colocada. Sempre nos é dito que não somos prioridade. Claro que estamos muito defasados em várias áreas, como educação e saúde, mas há muito tempo se ouve que vão priorizá-las também e não vejo melhorias. Se até lá demora, então até chegar alguma melhoria na cultura acho que vai demorar muito ainda. Isso se chegar um dia. Por isso tantos talentos indo embora, e nós que ficamos, fazemos porque amamos nosso Theatro, nosso público – esses sim, nos dão força pra continuar.
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Foto clássica Giselle, no segundo ato do ballet

 

Você já pensou em dançar fora?

Eu nunca pensei, não, sempre quis fazer carreira aqui e dançar para os que eu amo.  E também nunca quis ficar longe da minha família. Nossa carreira não é fácil, todo dia temos que provar que somos capazes, são muitas dores,  às vezes decepções. Longe deles, que são meu alicerce, eu não conseguiria.
Sua história com o ballet começou muito cedo, aos três anos – e aos 14 você começou sua carreira no TMRJ. Você sempre quis ser bailarina?
Dos três aos nove anos eu fazia jazz, nunca pensei em ser bailarina profissional, não. A paixão veio quando entrei para a Escola de Danças Maria Olenewa. Ali eu estava tão pertinho dos bailarinos do Theatro, assistindo os balés, aí sim a vontade foi crescendo dentro de mim.
Todos os grandes dançarinos tiveram – ou têm – grandes mestres. Quem foi que mais te marcou enquanto aluna?
Três professoras me marcaram enquanto aluna, porque além de me ensinarem, cuidaram de mim como uma filha também. Tia Edy (Edy Diegues), tia Amelinha (Amelia Moreira) e tia Regina (Regina Bertelli). As duas últimas não estão mais nesse mundo, mas tia Edy continua sempre comigo, me liga sempre, nunca esquece meu aniversário, e sempre que nos falamos diz que estou sempre em suas orações.
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Márcia como Nikyia, em La Bayadère

Na sua carreira você já dividiu o palco com várias estrelas – uma delas foi Marcelo Gomes, no ano passado, quando dançaram O Quebra-Nozes. Tem algum momento que você considere como o mais memorável da sua vida na dança?

Foi incrível dançar com Marcelo, com certeza umas das experiências mais incríveis da minha carreira. Eu tive vários momentos memoráveis, cada balé que me é dado é um desafio, que quando dançado fica guardado pra sempre. Tem um momento muito especial sim, foi em Romeu e Julieta, que foi remontado por Marcia Haydée. Passei dois meses com ela na sala ensinando o balé. Eu já admirava muito  toda sua história e carreira, mas fiquei mais encantada ainda com sua generosidade. Ela passava cada detalhe, cada sentimento, e quando ela mostrava alguma cena, era um momento de pura emoção – muitas vezes não conseguia segurar as lágrimas. É uma verdadeira diva, sou muito fã.
Você tem algum sonho não realizado? Qual é?
As coisas que sonhei quando estudante de balé , eu realizei. Claro que sempre quero mais! Acho que não um sonho, mas um desejo, é dançar mais fora do Brasil. Sonho, eu tenho um sim, mas isso mais pra frente, quando estiver parando de dançar. Não posso contar ainda.
Um pouquinho de Márcia Jaqueline em cena! Ela e Cícero Gomes no pas de deux d’O Quebra Nozes no TMRJ.
*Todas as fotos foram tiradas do site oficial de Márcia Jaqueline