Ballet Adulto

ballet adulto

Sim, VOCÊ PODE!!!! Para quem pensava que para dançar ballet tinha que “obrigatoriamente” começar desde criança está redondamente enganado. O ballet passa a ser realidade para pessoas que antes deram prioridade aos estudos, formação profissional, família, e agora, com mais calma e organização, podem se dedicar a dança como um hobby, sem necessariamente pensar no lado profissional da coisa.

MAS POR QUE EU DEVO FAZER BALLET?

Os benefícios do ballet são comprovados e não há nenhum segredo: fortalecimento e alongamento da musculatura, resistência física, aeróbica, exercício da memória (decorando os passos e sua ordem, além dos nomes), trabalhar seu lado lúdico e artístico, intimidade com a música, paciência, disciplina… E, claro, liberação de hormônios do prazer, para começar ou terminar bem seu dia/semana!

UM INCENTIVO EXTRA!

Para dar um “plus” nessa ideia, caso você ainda esteja em dúvidas, assista esse vídeo feito com a turma de ballet adulto do Australian Ballet. Tudo o que foi dito aqui vale também para você que talvez se identifique com outro tipo de dança é claro (dança de salão, jazz, dança do ventre, sapateado, flamenco, afro…). Além de todos esses benefícios, quem sabe você não descobre um talento extra? 😉

Perfil: Darcey Bussell

Foto: Reprodução/ Daily Mail

Eterna Sylvia e uma das melhores Gamzattis que “La Bayadère” já viu (sorry, Marianela!), Darcey Bussell, ex-primeira bailarina do Royal Ballet, é hoje jurada de um programa de dança da BBC, “Strictly Come Dancing”, é patrona do Sydney Dance Company, na Austrália, e é presidente do Royal Academy of Dance, em Londres, na Inglaterra.

Nascida em Londres como Marnie Mercedes Darcey Pemberton Crittle, ela se aposentou dos palcos em 2007, aos 38 anos, e ainda hoje é considerada  uma das maiores bailarinas que já passaram pelo Royal. Darcey se tornou principal da companhia aos 20 anos, depois de estrear em “The Prince of Pagodas”, do coreógrafo Kenneth MacMillan. Sua performance de despedida também foi uma obra de MacMillan: “Song of the Earth”. Em 18 anos como primeira bailarina, ela dançou papéis clássicos como a Fada Açucarada, em “O Quebra Nozes”; Nikyia e Gamzatti em “La Bayadère”; Aurora em “A Bela Adormecida”; Odette/Odile em “O Lago dos Cisnes” e Manon e Giselle, dos ballets homônimos. Uma curiosidade: em “A Bela Adormecida”, ela interpretou 17 personagens ao longo de sua carreira.

Foto: Reprodução/ YAGP
Bussell e David Makhateli em Manon

Vida particular

Darcey Bussel é casada com o empresário australiano Angus Forbes desde 1997, e tem duas filhas com ele, Phoebe (14) e Zoe (11). Depois de se aposentar definitivamente dos palcos, a ex-primeira bailarina disse ter caído em depressão profunda, que só cedeu depois que ela voltou a dançar e se envolver de novo com a dança. Aos 46 anos, ela lançou uma série de livros infantis, “Magic Ballerina”, uma linha de roupas de dança, DDMIX (Diverse Dance Mix), e um livro de memórias, “Darcey Bussel – A Life in Pictures”, com fotografias da sua carreira.

Darcey adotou o sobrenome do seu padrasto, Phillip Bussell, já que seu pai, John Crittle, se separou de sua mãe, Andrea Williams, quando ela tinha três anos. Logo que se casou com Andrea, Phillip adotou a pequena Darcey. Mais tarde, em 2000, Darcey se recusou a se reencontrar com seu pai biológico, alegando que ele não fazia mais parte de sua vida.

Logo que se aposentou dos palcos, ela e a família se mudaram para Sydney, na Austrália, onde Darcey ficou à frente da companhia em que hoje é patrona. Em 2012, ao receber o convite da BBC para ser jurada do programa, eles voltaram para Londres, onde moram até hoje.

UFBA recebe equipamento para dança

Foto: Reprodução / UFBA
Escola de Dança investiu no MoCap

A Escola de Dança da  Universidade Federal da Bahia (UFBA) inovou ao investir num equipamento que captura os movimentos do corpo humano, o MoCap, diminutivo de Motion Capture. Vale ressaltar que essa é a primeira vez que uma instituição de ensino superior de dança faz uma aquisição desse porte.

Por que é importante? Para começar, a MoCap facilita o entendimento da movimentação do corpo, e isso ajuda muito na hora de fazer trabalhos voltados para a mídia online. De acordo com a Escola de Dança, isso acontece porque o MoCap tem 18 câmeras que captam passos e movimentos de quem estiver usando o traje específico. Daí, essa leitura pode ser passada para personagens 3D, que replicam o que ‘viram’.

O ‘brinquedo’ chegou na semana passada, e, por enquanto, está restrito a um grupo de 10 pessoas, que ainda estão recebendo treinamento técnico.

Quer saber mais? Veja aqui no site da UFBA!

National Ballet of Canada – World Ballet Day

Ensaios de The Winter's Tales
Ensaios de The Winter’s Tales

Fazemos as nossas malas juntamente com os dançarinos de plantão e acompanhamos em um pouco mais de quatro horas de transmissão (que com certeza valem super a pena!) a rotina da companhia, alternando entre aula e ensaios, diretamente de uma turnê na cidade de Montreal, no Canadá. Vamos conferir o que teve de melhor, e para nos mostrar tudo, tivemos como anfitriões a Heather Ogden e Guillaume Côté, primeiros bailarinos do National Ballet of Canada.

Sobre a aula

Rex Harrington, antes de começar a aula, explica como é importante que todos estejam juntos em sala, próximos uns aos outros, não importa que nível a pessoa é dentro da companhia (solista, corpo de baile, primeiro bailarino). Além disso, é o momento que prepara o bailarino para o restante de sua rotina de ensaios. Na barra, vemos que a maioria dos integrantes começa com bastante roupa, como casacos, jauqetas, botas térmicas, polainas, roupas em lã e calças, tudo isso com intuito de aquecer as articulações e melhor prepará-los para o centro e os ensaios posteriores, já que a sala é bastante fria no início da aula. Claro que a medida que vão se aquecendo, vão também se desfazendo das roupas mais pesadas. O centro segue normalmente, em meio a uma brincadeira e outra que Rex faz com os bailarinos, o que ajuda a descontrair. O centro mostra o que há de melhor desses bailarinos, com direito a alguns esquecimentos ora ou outra (acontece!).

Sobre os ensaios

Assim que a aula termina, os bailarinos já começam a passar os trechos de suas coreografias, pois é o único tempo antes do ensaio onde poderão fazê-lo, geralmente focando nas partes mais difíceis ou imprecisas que precisam trabalhar (quem nunca?). A bailarina principal da companhia Greta Hodgkinson responde a perguntas enviadas pela audiência durante os intervalos.

Primeiramente acompanhamos os ensaios de “The Winter’s Tales”, nos quais vemos dois dos solos que compõem a obra. A interpretação e domínio do eixo são as palavras-chave das bailarinas que ensaiam. Há a todo momento uma troca entre bailarina e o mestre que as ensaia, Lindsay Fisher, processo que não deixa de ser interessante para quem acompanha.

Kathryn Hosier, fala sobre ter o papel principal no ballet “Spectre de la Rose”, da maneira como adentrar esse trabalho foi emocionante e ao mesmo tempo um território até então desconhecido para ela. Ela conta que assistiu ao vídeo assim que chegou em casa, e ficou chocada no quão único aquele trabalho era, nada comparado ao que já tinha visto antes, até mesmo intimidando-a pela força que o trabalho tem. Conta que estudou o vídeo por duas semanas antes de começar a ensaiar, sempre assistindo de novo, de novo e de novo, seria uma chance única de provar a si mesma. Ela conta que quando está no palco sozinha, ela olha para o teatro e pensa: “Oh meu Deus, eu sou a única pessoa no palco agora?” e finaliza dizendo que essa é a melhor sensação no mundo.

Tivemos pouco tempo para acompanhar os últimos dois trabalhos da companhia, ambos os ensaios já com figurino. O primeiro “Le Spectre de la Rose” (O espectro da rosa), conta com movimentações incrivelmente precisas dos bailarinos, que, minha nossa (!), fazem tudo muito bem, e fica difícil de nossos olhos acompanharem e os braços tentarem reproduzirem os movimentos. O segundo, “Chroma”, mostrou mais a passagem das sequências dos bailarinos com cenário e luz. Muito pouco vimos sobre o figurino e a passagem com música dessa obra de aspecto moderno coreografada por Wayne McGregor, entretanto, o pouco que vimos já nos deixou com vontade de querer ver mais com certeza. Uma curiosidade: o National Ballet of Canada foi a primeira companhia além do Royal Ballet a interpretar essa obra.

Outras companhias

Além da própria companhia da qual falamos, tivemos a presença ilustre de outras durante a transmissão, seja assistindo trechos de seus trabalhos, seus ensaios, aulas e dia a dia por dentro das mesmas.

Les Ballet Jazz de Montreal é uma companhia contemporânea fundada em 1972. Na sua apresentação, pudemos assistir trechos de trabalhos seus, como “Kosmos”, “Closer”, “Harry” e “Rouge” (esta última coreografada pelo brasileiro Rodrigo Pederneiras, coreografo do Grupo Corpo).

Boston Ballet abriu suas portas para nos mostrar os ensaios do espetáculo Third Symphony of Gustav Mahler, uma obra forte e expressiva, coreografada por John Neumeier. Assistimos também um trecho da variação e coda da Fada Açucarada do clássico ballet “Quebra-Nozes” e por último, vemos os ensaios de Pas de Quatre, onde quatro bailarinas apresentam suas variações e apresentam o que há de mais difícil (impossível tavlez? rs) em pontas.

Por ultimo, e muito importante por sinal, adentramos o universo do American Ballet Teather, que esse ano completa 75 anos de existência, se consagrando como uma das melhores do mundo. A companhia conta com nomes importantes, como Misty Copeland, Daniil Simkin e, não poderia deixar de falar dele, o brasileiro Marcelo Gomes :-), que além de ser primeiro bailarino, atualmente também coreografa para a companhia.

Para ver aula e ensaios completos, clique aqui.

Quer mais? Leia nossas resenhas do Australian BalletBolshoi, Royal, e San Francisco!

Exercícios para os pés

Alongar os pés com theraband é um dos exercícios propostos
Alongar os pés com theraband é um dos exercícios propostos

Uma das coisas mais importantes para quem dança é saber os exercícios certos de fortalecimento para cada parte do corpo, porque, com o impacto e as repetições de movimento, lesionar é muito fácil. Para quem já usa ponta, então, tem que ter cuidado redobrado, especialmente com os pés e tornozelos.

Esse vídeo abaixo, da bailarina do New York City Ballet Kathryn Morgan, tem dicas preciosas de como fortalecer pés e tornozelos. Os movimentos são simples – mas puxados! – e para fazê-los você precisa de: uma bolinha, um bosu e uma theraband (que você encontra em qualquer loja de artigos esportivos) e, se já fizer ponta, sua sapatilha. Senão, basta ficar na primeira parte dos exercícios.

Eu incorporei esses exercícios na minha rotina – faço, pelo menos, duas vezes por semana – e o resultado é visível. Não tenho um bosu em casa, e não é sempre que fico motivada para fazer até o final, com a ponta. Então fico mais na parte inicial, da bolinha e da theraband – uso a preta, que tem maior resistência. Mesmo com essa versão ‘pocket’, sinto muito mais estabilidade quando subo na meia ponta, principalmente em relação ao tornozelo, que não ‘sacode’ tanto quando fico em equilíbrio. O mesmo vale para a ponta, especialmente nos relevés.

A Kathryn Morgan tem vários vídeos de alongamentos, exercícios e dicas de técnica para quem dança. Todos os vídeos são em inglês, mas como ela mostra tudo enquanto fala, dá para entender mesmo se você não for fluente na língua. Vale a pena conferir seu perfil no YouTube, @Tutugirlkem. Com certeza vamos colocar mais coisas dela por aqui! 🙂

 

Misty Copeland e os marmanjos de tutu

Misty sobe nas pontas com Jimmy e Guillermo
Misty sobe nas pontas com Jimmy e Guillermo

A gente simplesmente a-do-ra a Misty Copeland! Mais até pelo ativismo, protagonismo e carisma fora de palco do que pelo talento incrível que ela tem para a dança. Vibramos muito quando ela foi (finalmente!) promovida a principal do American Ballet Theater e, de quebra, se tornou a primeira bailarina negra em uma das maiores companhias de dança do mundo.

Mas é por coisas desse tipo que amamos a Misty: quem mais daria aula de ballet para dois marmanjos de tutu cor-de-rosa? Que chamam grand battement de grandmama? Que aparecem com as pernas cabeludas? Spoilers à parte, confira aqui o vídeo da bailarina com Jimmy Kimmel e Guillermo!

Royal Ballet – World Ballet Day

Aula de aquecimento do Royal Ballet
Aula de aquecimento do Royal Ballet

A aula é, confesso, minha parte preferida do World Ballet Day. Gosto mais do que os ensaios, que são mágicos porque a gente consegue ver o passo a passo da obra prima, de como os bailarinos e a coreografia são polidos até chegarem ao que nós vemos no palco. Mas a aula tem um gostinho ainda mais especial: é quando vemos os dançarinos desprovidos de qualquer vaidade. Estão lá, na barra nossa de cada dia, com as sapatilhas gastas, aquela meia meio rasgada, enfim… Gente como a gente.

Por isso que é tão bom de assistir: dá para ver por quê esses são bailarinos profissionais. Mas é bom ver que eles, também, erram, têm seus artifícios e folgam o joelho quando fazem tendue devant – me senti representada!* No mais, é sempre muito legal ver brasileiros dançando. Nessa aula eu vi uma, Letícia Stock**, primeira artista da companhia (esse status é uma posição acima do corpo de baile). Além de Letícia, temos Mayara Magri, também primeira artista, e Roberta Marquez e Thiago Soares como principais da companhia.

O Royal convidou mais quatro companhias do Reino Unido para a transmissão: o Northern, Birmingham Royal, English National e o Scottish. O Birmingham Royal – parceiro e convidado do World Ballet Day – fez um vídeo explicando como funciona a técnica do pas de deux. Nele, os bailarinos Jade Heusen e Brandon Lawrence mostram o por quê das coisas e o que acontece quando fazem de outro jeito. Quem já fez aulas de partening vai se identificar com algumas ‘trapalhadas’ que os bailarinos simulam – tenho muitas lembranças de piruetas mal-sucedidas. E também vale a pena para quem não dança! A partir desse vídeo dá para ver o quanto certas posições são difíceis e desconfortáveis – especialmente para os homens.

O English National teve uma iniciativa muito legal de oferecer oficinas de dança e expressividade para idosos que sofrem com Mal de Parkinson. A melhor parte é que as aulas acontecem no estúdio da companhia, ou seja, no mesmo ambiente dos profissionais. Numa entrevista bem rapidinha, Tamara Rojo – diretora artística e principal da companhia – fala da importância de apostar em trabalhos novos e equilibrá-los com os repertórios tradicionais. Pessoalmente, compartilho do ponto de vista dela, pois acho que muitas companhias ‘estacionaram’ nas montagens mais clássicas e deixam de aproveitar o talento menos convencional de novos profissionais.

Ensaios

Os pas de deux Raven Girl, The Two Pigeons, várias cenas de Romeu e Julieta e a Valsa das Flores, de O Quebra Nozes, foram os repertórios do Royal para o dia. Além disso, várias outras coreografias foram passadas. Não vou falar sobre todos, apenas os menos conhecidos. Raven Girl foi conduzido pelo coreógrafo Wayne McGregor, e contou com a solista Beatriz Stix-Brunelle o primeiro solista Ryoichi Hirano nos papéis principais. Essa é a primeira vez que a dupla dança esse ballet, montado originalmente em 2013. Quer saber mais sobre a história? A gente conta! Já The Two Pigeons, coreografia de Frederick Ashton é muito fofa – e engraçada. É tecnicamente difícil, mas não deixo de rir com os passos. Quem deu as diretrizes foi Christopher Carr, maître de ballet convidado, e os bailarinos são os primeiros solistas Yuhui Choe – uma das minhas dançarinas preferidas do Royal – e Alexander Campbell.

Uma coreografia apresentada, Czardas, vale a pena conhecer. Quem dança é o próprio coreógrafo, o novo queridinho da Royal Steven Mc Rae. O ruivo sem dúvidas está vivendo sua melhor fase: nos últimos dois anos ele se consolidou como principal e tem participado de todas as montagens originais da companhia. Nesse repertório ele mostra seu lado mais versátil, combinando clássico com sapateado (sou fã). Para fechar, Romeu e Julieta, um dos ballets mais queridos do público, recebeu menção honrosa: teve um vídeo de pré-produção da temporada com direito a backstage, entrevista com os coreógrafos e bailarinos e visitas ao camarim. Enfim, é muita coisa… Tudo isso para dizer que vale a pena tirar umas horinhas do seu dia para ver o vídeo todo!

*Veja aqui que eu não estou mentindo!

**Letícia está usando um leotard cinza e saia florida. Ela está no segundo grupo de centro, na fila da frente à esquerda.

Para ver aula e ensaios completos, clique aqui.

Quer mais? Leia nossas resenhas sobre o Australian Ballet, Bolshoi, National Ballet of Canada e San Francisco!

Australian Ballet – World Ballet Day

Ensaio do pas de quatre do Lago Dos Cisnes, versão de Graeme Murphy
Ensaio do pas de quatre do Lago Dos Cisnes, versão de Graeme Murphy

Quem abriu os trabalhos do World Ballet Day, mais uma vez, foi o Australian Ballet, que sai na frente por começar o dia mais cedo – literalmente! A aula matinal da companhia foi ministrada pelo maître e repetiteur (profissional responsável por remontar e adaptar os repertórios) Steven Heathcote, que já foi bailarino da casa. Uma coisa que deu pra perceber é que Heathcote gosta muito de um centro prático, que prioriza a limpeza dos movimentos. Já na barra foram três sequências de tendues, no centro exercícios de equilíbrio, com fondue,s transferência de peso e muitas piruetas. Eu sairia arrasada dessa aula.

Logo depois, os apresentadores conversaram com a bailarina Lisa Craig, que além de dançar pela companhia, é blogueira pela Bloch – e você vai saber por quê. Ela falou sobre o que é, para ela, importante numa sapatilha de ponta para que ela fique o mais próximo da perfeição. Ajuda que os bailarinos do Australian recebem sapatilhas da Bloch – uma das marcas mais bem avaliadas do mercado – que são customizadas para atender as necessidades específicas de cada dançarino. Chato, né? Quanto às dicas de Lisa, uma boa ideia é costurar em volta da ponta para ajudar no equilíbrio e, de quebra, reduzir o barulho. Se a sapatilha estiver um pouco folgada, fazendo uma dobra, ela recomenda cortar as laterais e ajustar na agulha.

Uma coisa que me chamou a atenção no Australian é que a companhia está – com o perdão do jargão esportivo – apostando na base. A escola de dança da companhia está passando por ampliações para acomodar mais 37 estudantes de diversos países, como Nova Zelândia, Japão e Estados Unidos, além da própria Austrália. Quem falou isso foi a diretora da escola, Lisa Pavane, enquanto os alunos graduandos se ensaiavam um Extro, um repertório contemporâneo do coreógrafo Timothy Harbour. Muito interessante ver bailarinos ainda em processo de formação já inteirados com o que há de novo no mercado.

Ensaios

O ensaio principal do Australian foi Cinderella – que, confesso, não está entre meus preferidos. Mas a coreografia que eu mais gostei foi, na verdade, uma adaptação. Achei sensacional a montagem de O Lago dos Cisnes de Graeme Murphy, em especial do famoso pas de quatre dos pequenos cisnes (aquele das bailarinas com os braços dados). Essa parte continua igual, mas toda a logística de movimento mudou. Ficou bem diferente, bem divertido de ver, e bem dinâmico. Dançar deve ser muito cansativo! Outra montagem interessante desse repertório eu assisti pelo English National Ballet. Leia mais aqui!

Mas claro que teve coisa boa em Cinderella. Para começar, essa também é uma adaptação: a coreografia é assinada por Alexei Ratmansky. Aqui, a mãe e as madrastas – que em muitas montagens vezes são personagens puramente cômicos e decorativos – são representadas por Amy Harris, Elisa Fryer e Ingrid Gow. E, além das mis-en-scénes, que são só atuação, elas dançam sequências tecnicamente difíceis. Ficaram como uma espécie de solistas, mas sem perder o lado engraçado e malvado. Uma das irmãs é magricela, e a outra é burra – e o solo dela retrata bem essa ‘característica’. E foi depois desse solo que eu vi Eloyse levar uma das ‘puxadas de orelha’ mais inusitadas do maître Tristan Message: “Excelentes giros. Muito bons, mesmo. Provavalmente bons demais pra gente burra”. Melhor ‘correção’ que eu já vi!

Para ver aula e ensaios completos, clique aqui.

Quer mais? Veja nossas resenhas sobre o Bolshoi, Royal Ballet, National Ballet of Canada e San Francisco!

Bolshoi – World Ballet Day

Extensão é a palavra chave na aula do Bolshoi
Extensão é a palavra-chave na aula do Bolshoi

O Bolshoi é uma das companhias de dança mais tradicionais do mundo, e uma das mais exclusivas também. Por isso que sua participação no World Ballet Day – ou qualquer streaming – é aguardado com bastante ansiedade. Por mim, pelo menos. Nessa edição, quem nos leva às salas de aula e nos diz tudo sobre o teatro, a academia e os bailarinos é Katerina Novikova, relações-públicas do Bolshoi. Como não há legendas, ela fala em russo e em inglês – o sotaque é forte, mas dá para entender!

Tudo bem que a gente perde bastante coisa não sabendo o que o professor Boris Borisovich fala com os alunos. Tirando dos nomes dos passos, não dá para entender nada. Mas dá para perceber que, nesta aula, as extensões são muito trabalhadas. E isso diz muito sobre o estilo russo de dançar, que valoriza bastante as linhas e os braços dos bailarinos. Outra coisa que dá para observar é o rigor físico: todas as mulheres são extremamente magras e a maioria é alta. Os dançarinos também forçam o en dehors ao máximo, ultrapassando a linha dos 180º da primeira posição. Muitos professores e fisioterapeutas são contra, dizendo que isso faz mal para os ligamentos e para o joelho. Mas, em se tratando do Bolshoi… é tradição.

Também rola um contorcionismo agudo durante a aula, especialmente durante adagios. As pernas sobem até você achar que a pessoa vai se rasgar no meio, daí sobe mais um pouquinho, sustenta e só depois desce. (Acho desnecessário! 😛 ) Diferentemente das outras companhias, o Bolshoi mostrou mais aulas durante a transmissão, o que reforçou a ideia de realmente ‘passarmos o dia’ lá.

Ensaios

O primeiro repertório que vemos é um assinado por Alexei Ratmanski, um dos principais coreógrafos de ballet clássico nos dias de hoje. O nome da peça não foi mencionado no vídeo, mas dei uma pesquisada e acho se tratar de Jardi tankat, uma produção com músicas folks espanholas. A musicalidade é beeeem difícil, e os passos são muito fluidos, sem aquele rigor do clássico tradicional que estamos acostumados. Particularmente não sou muito fã de ballets com música cantada, mas essa coreografia certamente chama atenção.

Para mim, a melhor parte foi a passagem de O Lago dos Cisnes no palco. Apenas amo aquelas cena clichês, de visão dos bastidores, entra e sai de bailarinos no palco, a música da orquestra… Me julguem! É uma passagem mais de espaço, por isso não existem aquelas correções de interpretação, tempo, colocação de pernas e braços, etc. É um ensaio muito mais ágil, mas igualmente importante – e lindo!

Mas o Bolshoi mostrou que também está apostando em produções contemporâneas. Radu Poklitaru, que coreografou Hamlet para a companhia, falou que, nessa obra, atuar é tão importante quanto dançar. E, por isso, escolheu para a peça bailarinos que tivessem uma carga dramatúrgica maior. Para se ter uma ideia, o Hamlet original, Denis Savin, foi escolhido porque emocionou como Romeu. E como é tudo Shakespeare, né… Tá em casa! Poklitaru falou que o processo  dele é diferente dos colegas que chegam para o ensaio com tudo já preparado. “Eu só crio em sala. Ouço a música, olho os bailarinos no olho e dentro de mim mesmo, ouço a música como se fosse a primeira vez e aí arrisco uns movimentos meio estranhos, que depois se transforma na estrutura do ballet”.

Os depoimentos dos professores e maîtres do Bolshoi são, realmente, inigualáveis. Muitos viram de perto verdadeiras lendas do ballet russo dançarem nos anos 1940 e 1950, quando o Bolshoi e o Mariinsky não tinham competição. No finalzinho, temos um vídeo com uma compilação de ensaios e apresentações – e podemos ver, ainda que de relance, grandes estrelas da companhia, como Svetlana Zakharova, Evgenia Obrastova e Maria Kotchetkova, que hoje está no San Francisco 🙂

Para ver a aula e ensaios completos, clique aqui.

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Raven Girl, um conto de fadas para adultos

Audrey Niffenegger e Wayne McGregor durante a montagem de Raven Girl
Audrey Niffenegger e Wayne McGregor durante a montagem de Raven Girl

Mais de três anos se passaram desde que a escritora americana Audrey Niffenegger (A Mulher do Viajante do Tempo) e Wayne McGregor, coreógrafo do Royal Ballet de Londres, se reuniram para criar um projeto ambicioso: um conto de fadas inédito apresentado em três linguagens diferentes e complementares; palavras, dança e imagem.

Não se tratava, portanto, de uma adaptação do livro para dança, da dança para o filme ou vice-versa. Cada parte do “projeto” teria como propósito contar sua versão da história, criada em conjunto pelos artistas. Audrey inventou a história, McGregor inventou os passos, Gabriel Yared inventou a música e o filme ainda está em fase de criação.

Apesar de não ter criado a história preocupada com a parte dançada do projeto, a escritora acompanhou a coreografia montada por McGregor desde o início. “Foi animador porque (a dança) é uma linguagem que eu não falo. É como outra língua, você não entende nada, mas pensa ‘olha, é minha história em outra língua’ e acha lindo ”, disse Audrey em entrevista coletiva promovida pelo Royal Ballet.

Capa do livro Raven Girl
Capa do livro Raven Girl

Raven Girl (A menina corvo, em tradução livre), conta a história de uma menina com alma de pássaro, fruto do amor entre um carteiro e uma corvo. Desde pequena ela se sente aprisionada pelo próprio corpo e tudo que ela mais quer é conseguir voar. Ninguém a compreende; apesar da aparência humana, ela fala a língua dos pássaros e não consegue se comunicar com pessoas. Por outro lado, os corvos não a enxergam como uma deles e, por isso, a menina se sente muito sozinha.

O livro, lançado em fevereiro de 2013, tem uma linguagem simples e direta, e carrega o humor fino e levemente sombrio característico da autora. Os personagens não têm nomes, são “o carteiro”, “o menino”, “o gato”, “o médico”. A narrativa, no entanto, é clássica no quesito conto de fadas, começando com “Once there was a postman who fell in love with a raven” (“Era uma vez um carteiro que se apaixonou por uma corvo”, em tradução livre) e terminando com o esperado final feliz, que remete ao início do livro. Audrey disse que procurou colocar em seu livro todas as características principais de um conto de fadas, mas quis que os personagens fossem psicologicamente mais complexos. “Não é algo que você vai encontrar em uma história dos irmãos Grimm”, explicou.

As ilustrações, que dominam boa parte da obra, também são de autoria da escritora. McGregor credita às imagens boa parte da coreografia, porque, segundo ele, elas possuem “uma gramática física implícita”. Segundo Audrey, a escolha da aquatinta (técnica que consiste em sobrepor uma imagem em outra) reflete o estado de espírito da personagem principal, sentindo-se duas coisas ao mesmo tempo – e, talvez por isso, não se identificando plenamente com nenhuma delas.

O ballet, cuja temporada de estreia no Covent Garden foi de maio a junho do mesmo ano, carregou muito da narrativa do livro, se tornando até didático em algumas partes. O decorrer do repertório deu a entender que McGregor ficou mais preocupado em explorar o enredo até a metade da história, enxugando o final. A apresentação contou com muitos efeitos visuais, fazendo alusão às litografias de Audrey. A ideia teria sido excelente se não tivesse ofuscado o ballet, que acabou contando mais com mis-en-scénes e efeitos do que com dança, propriamente.

Melissa Hamilton como Raven Girl
Melissa Hamilton como Raven Girl

No entanto, a música e as coreografias do solo da Raven Girl e do pas de deux dela com o príncipe corvo (claro que tinha um príncipe, afinal, é um conto de fadas!) fizeram o ballet valer a pena. McGregor conseguiu traduzir em movimento o que Audrey descreveu em palavras, e a música de Yared fez com que a gente quase pudesse escutar o pensamento e a angústia da personagem.

McGregor disse que não se sentiu obrigado a dar ao ballet o mesmo rumo do livro e defendeu que a dança tem seu próprio ritmo. “Nós sempre soubemos, desde o início do projeto, que ele seria feito em três fases: o livro, que teria sua vida própria, o palco, que traria outra versão da história e desviaria do livro em alguns momentos, e o filme, que combinaria todos os elementos anteriores com animação e voz”.

Estou ansiosa para a terceira parte do projeto e espero, sinceramente, que mais parcerias como essa possam enriquecer o mundo da arte – McGregor e Audrey deram a entender que esta foi o primeiro de vários projetos conjuntos. Mesmo se não forem perfeitas e aclamadas pelo público – o ballet recebeu algumas críticas negativas – pelo menos vai servir como uma reciclagem no mundo da arte. Ao integrar em uma mesma produção letras, movimento e música, Raven Girl é um convite para que mais artistas a saiam do óbvio de vez em quando.

 Veja aqui o vídeo em que Audrey e McGregor falam do conceito do projeto.

 

*Post originalmente publicado no blog Revista Pulso em 14/06/2013. Para ver, clique aqui.