Penchée turbinado!

Vamos combinar que esse é um dos passos mais difíceis de fazer, né? Exige controle, graciosidade, flexibilidade e equilíbrio – especialmente na ponta. Então, qualquer conselho para melhorar o penchée é válido, certo? Errado!

O passo é sobre a manutenção da linha do arabesque: se lá a gente tem que manter a perna fechadinha atrás e os braços alinhados, a mesma coisa tem que acontecer com o penchée. “Abrir” a perna que sobe pode até dar uma sensação de que ela fica mais alta, mas, com isso, seu tronco vira também (a não ser que você seja absurdamente en dehors!) e, com isso, fica mais difícil manter o equilíbrio. Fora que fica feio para a plateia ver um penchée todo arreganhado, né?

Outro vício nocivo de alguns bailarinos é jogar o peso para trás. Evite isso! A perna pode até subir um pouquinho mais, mas você corre o risco perder a estabilidade na perna de base, e aí… Já era.

Alina Cojocaru e sua Giselle super controlada!
Alina Cojocaru e sua Giselle super controlada!

Mas calma que nem tudo está perdido! Existem dicas saudáveis e que deixam o passo ainda mais bonito. Uma delas é colocar o peso no metatarso (e não no calcanhar!) já na hora do arabesque e mantê-lo lá enquanto o tronco desce. Procure manter o pé de base levemente en dehors (a diagonal facilita o equilíbrio) e espalhe os dedos dos pés dentro da sapatilha para fixá-los melhor no chão.

Uma coisa que a gente sempre ouve é que tem que manter a linha de 90º do arabesque, e que é a perna que tem que levar o tronco. Funciona para você? Ótimo! Mantenha! Eu fazia isso, mas a perna acabava não subindo o que podia. Felipe me deu uma dica ótima, que pode servir para quem tem o mesmo problema que eu: pense no pé, e não na perna, subindo. Quando você se guia pelo dedinho do pé, a perna automaticamente sobe – e ainda mais graciosa!

Não esqueça dos seus braços! Alongue o da frente – e mantenha os olhos além dos dedos, porque encarar o chão desequilibra e é muuuito feio! – e, principalmente, o de trás. Se o braço de trás ficar “morto”, ele te derruba. Se ficar muito alto, você não consegue descer o tronco. Tente alongar levemente para a diagonal, para estabilizar.

“Mas minha perna não sobe! E agora?”. Calma! Num próximo post vamos dar dicas de como alongar e manter a perna atrás sustentada! 🙂

Vídeo da semana!!! #02

Olá queridos leitores e amantes de dança, tudo bem? Vamos trazer hoje mais um vídeo escolhido por nós para vocês começarem bem o final de semana, principalmente aquelas pessoas que estão ensaiando para os festivais e espetáculos de final de ano (tipo eu!).

O vídeo traz a linda bailarina Adeline Pastor, dançando ao som de “Je ne regrette rien” da famosa cantora francesa Edith Piaf.

Falando sobre Adeline: nasceu em Nice, França, onde começa a dançar com 8 anos de idade. Entre 1990  e 1996, começa a participar de concursos e ganha vários prêmios, até que, em 1996, ela vai para a Escola Nacional de Ballet Alicia Alonso, e, posteriormente, para a Escola do Balé Nacional de Cuba. Em 1998, passa a ser integrante da companhia, além de também dançar em outros ballets de renome.

Voltando ao vídeo, devo dizer que é de uma expressividade emocionante (a música ajuda muito a compor esse quesito). O que não poderíamos deixar de destacar (quase como um dever moral para com vocês, leitores), são as piruetas da própria :-O !!! Que dizer perto de um eixo maravilhoso e controle de giros que se vê em muito poucas bailarinas atualmente? Como a própria Juliana Lisboa disse: “Parece que ela dança essa variação desde pequenininha!”. Q que podemos fazer senão apertar A-GO-RA o play e vê-la dançar? rs!

 

PS: Ainda estamos aguardando sugestões de vocês! Quem sabe seu vídeo não aparece aqui?

O efeito Misty Copeland

Misty Copeland como Odette. Foto: Reprodução/ The Guardian

O palco de um espetáculo de dança é o único lugar no mundo em que o príncipe pode ser negro, a camponesa pode ser asiática, um cisne negro pode ser branco, uma fada pode ser latina.. Mas uma coisa podemos ter certeza: o corpo de baile será sempre branco. A variedade de corpos e tons de pele é limitada.

Por isso a importância de uma bailarina como Misty Copeland: ela, numa tacada só, conseguiu “forçar” a entrada de uma bailarina negra e forte no posto mais alto de uma das maiores companhias de dança no mundo.

Mas o mais importante, no meu ponto de vista, não foi isso: a partir de Misty, o mundo começou a prestar atenção nos talentos que tinha historicamente deixado de lado. A partir da história de superação de Misty conhecemos, hoje, Michaela DePrince, bailarina do Dutch National Ballet que está ganhando o mundo pelo talento na dança e pela trajetória de sobrevivência. Ela, inclusive, acabou de anunciar que dançará Clara/Marie na produção de “O Quebra Nozes” da companhia.

Michaela DePrince em ensaio para a Glamour Magazine. Foto: Alique
Michaela em ensaio para a Glamour Magazine. Foto: Alique

Mas claro que Misty não foi a única. Graças a nomes como Carlos Acosta, temos hoje bailarinos incríveis despontando, como Eric Underwood, do Royal Ballet, um dos nomes mais cotados para, a longo prazo, assumir o posto de “estrela” deixado pelo cubano.

E no ano que vem teremos mais um passo muito, muito importante – talvez o passo mais importante até agora – no cenário da dança no mundo. A Associação Internacional de Negros na Dança (International Association of Blacks in Dance, em inglês) vai promover no dia 24 de janeiro, na Cleo Parker Robinson Dance Studios (em Denver, nos Estados Unidos), a primeira audição exclusivamente para dançarinas negras em escolas, cursos profissionalizantes e companhias.

Talvez assim, a partir do ano que vem, a gente consiga ver os ballets mais plurais, mais miscigenados, mais bonitos. Porque o que não poderia acontecer é continuar desprezando e diminuindo talentos como o desses dançarinos!

Eric Underwood. Foto: Reprodução/ Interview En L'air
Eric Underwood. Foto: Reprodução/ Interview En L’air

Veja abaixo a lista das instituições que já confirmaram participação (e parabéns aos envolvidos). Quer se inscrever? Clique aqui!*

Ballet Memphis

Charlotte Ballet

Colorado Ballet

Dance Theatre of Harlem

The Hartt School

Houston Ballet

Joffrey Ballet

Kansas City Ballet

Nashville Ballet

Pacific Northwest Ballet School

Pennsylvania Ballet

San Francisco Ballet

The Washington Ballet

 

*O site é em inglês

 

 

Vídeo da semana!!! #01

Olá pessoal tudo bem com vocês? Vamos apresentar uma nova ideia para o blog que com certeza contará com a ajuda e contribuição de todos vocês (já saberão como daqui a pouco!). Toda a semana, nas sextas-feiras, traremos um vídeo de dança para ser postado no blog, pode ser de qualquer tipo de conteúdo de dança, não necessariamente clássico. Pra você que mandar seu vídeo e ele for escolhido, você terá os créditos de envio no blog e na página do face. Não é demais?

Sem mais delongas… vamos ao primeiro (Ebaaaa!)

Nosso vídeo de número #01 taz ela que é uma das minhas bailarinas favoritas: Dorothée Gilbert, étoile do Ópera de Paris desde 2007 (étoile para quem não sabe, é o posto mais alto dentro da hierarquia de bailarinos do Ópera de Paris). O vídeo mostra uma variação do ballet Raymonda coreografado por Nureyev (já falamos dele aqui), onde ela faz a variação da Henriette, uma das duas amigas em destaque da protagonista que dá nome ao ballet.

Percebam todo o controle e precisão da bailarina durante toda a variação, essa que é característica marcante da companhia do corpo de baile até os principais. Além é claro de sua graça e leveza, que faz tudo parecer muito fácil. Aproveitem o vídeo!

 

Aguardaremos com carinho as sugestões de vídeos de vocês!

Um mês inspirado

Um mês de blog, gente! Sensação meio esquisita pra nós que escrevemos, porque ao mesmo tempo que parece que fazemos isso desde sempre, ainda não caiu a ficha que já se passaram 30 dias desde que lançamos o Oito Tempos.

Claro que o amor à dança é nossa força-motriz principal, mas queremos fazer a diferença e, além de falar sobre passos, produções, bailarinos e novidades, queremos inspirar.

E inspiração é a palavra que melhor define essa carta que a bailarina Lia Cirio, do Boston Ballet, escreveu para a “Lia adolescente”, dando conselhos para ela mesma na época em que estava cheia de inseguranças e decidindo se seguia como bailarina profissional. Achou estranho? Confie na gente, vale a pena! Eis o texto aí embaixo, traduzido.

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A bailarina Lia Cirio. Foto: Reprodução/ Boston Globe

Querida Lia,

Tem tantas coisas que eu quero compartilhar com você! Você vai passar por muita cosa na sua carreira – fisicamente, mentalmente, emocionalmente e pessoalmente. Mas saiba que, através de tudo isso, você vai manter sua paixão por ballet e sua alegria de viver.

Eu sei que você se preocupa sobre ter amigos. Você pode se sentir como um peixe fora d’água agora, mas amigos virão – e eles serão os que contam. Amigos de verdade são aqueles que valorizam você tanto quanto você os valoriza. E tome conta daquele seu irmãozinho, Jeffrey! Ele não só vai se tornar um dos seus melhores amigos,  como também uma grande fonte de inspiração na sua carreira.

Haverá dias em que você vai questionar se sacrificar uma vida normal de adolescente vale a pena – ou se é uma perda de tempo. Mas acredite em mim: Vale a pena! Você vai descobrir tanta alegria no palco, e você vai guardar com carinho esses incríveis, indescritíveis momentos para sempre.

Saiba que haverá vezes em que você não será escalada por causa da sua aparência ou porque alguém não gosta do seu jeito de dançar. Não gaste sua energia pensando em como você poderia mudar. Seja você mesma. Deus te fez especial.

Continue trabalhando na sua técnica, e nunca se compare com os outros. Apegue-se em sua confiança – é tão fácil deixar que ela escorregue de você. Confie em sua técnica e na sua paixão, mas lembre-se de observar, aprender e nunca ficar satisfeita. Nós não podemos ser perfeitos, mas podemos sempre buscar a perfeição.

Lia, viva sua vida plenamente. Ballet é seu sonho, e é um privilégio tão grande poder dançar. Abrace cada momento!

Com amor,

Lia

P.S.: Ouça sua mãe! Guarde no coração quando ela diz que você pode fazer qualquer coisa quando você se esforça. Você é mais forte e mais esperta do que imagina!”

 

Obrigada pelas palavras, Lia! E muuuito obrigada a você que lê a gente 🙂

A carta original, em inglês, você confere aqui! E se quiser saber mais sobre ela, vale ver esse vídeo do Boston Ballet!

Perfil: Rudolf Nureyev

Rudolf Nureyev
Rudolf Nureyev

Nascido na Rússia socialista (portanto, União Soviética) em 17 de março de 1938, Rudolf Khametovich Nureyev foi um dos maiores nomes do ballet na segunda metade do século XX. Além de bailarino de técnica impecável, ele foi peça importante para a reestruturação do Ballet Opera de Paris como coreógrafo e répétiteur (responsável por remontar as obras), revolucionou o papel do homem no ballet clássico e contribuiu para a inovação da dança moderna. Morreu em 1993, aos 54 anos, de insuficiência cardíaca decorrente da AIDS.

Acostumado a viajar desde o nascimento – sua mãe deu à luz num trem na linha Transiberiana, perto de Irkrutsk, na Sibéria – Nureyev fez audição para entrar no Bolshoi quando a família viajou do vilarejo, Ufa, para Moscou. Naturalmente, ele passou, mas optou pelo Kirov e mudou-se para São Petersburgo (à época, Leningrado). Mas, por conta das dificuldades burocráticas da União Soviética, foi apenas aos 17 anos que ele conseguiu matricular-se na escola.

Aos 20 anos, ele já era solista do Kirov e um dos bailarinos mais queridos do país. Por isso, ganhou permissão para se apresentar no exterior e contribuir para a propaganda do socialismo. Ele chegou a dançar em Viena, na Áustria, mas, por conta do seu temperamento rebelde, só voltou a sair da União Soviética em 1961. Nessa turnê, também pelo Kirov, ele foi aclamado pela crítica internacional (em especial pela francesa). Antes mesmo do fim da turnê, a KGB (inteligência soviética) quis mandá-lo de volta para o país, com medo que ele fugisse. Não adiantou: com a ajuda da polícia francesa e de amigos, Nureyev conseguiu escapar e firmou um contrato com o Grand Ballet du Marquis de Cuevas. Na turnê que a companhia fez pela Dinamarca, conheceu Erik Bruhn, solista do Royal Danish Ballet que se tornou seu amante e amigo mais próximo.

Um dos pontos altos da carreira de Nureyev como bailarino foi sua passagem pelo Royal Ballet, em Londres, quando dançou com a primeira bailarina Margot Fonteyn. Ele continuou no Royal até os anos 1980, quando, já como Principal Guest Artist (mais alto posto da companhia), ele migrou para o Opera de Paris. Mesmo depois de sua ida para o Opera, Nureyev e Fonteyn continuaram dançando juntos. A última vez que dividiram o palco foi em 1988 – Fonteyn tinha 69 anos e ele, 52. O repertório foi “Baroque Pas de Trois”. Já nessa época, por conta de sua habilidade técnica e talento, Nureyev conseguiu forçar o crescimento do papel masculino no ballet clássico, com coreografias mais difíceis e mais tempo em palco.

Em 1983 ele se tornou o diretor da Opera de Paris, e dava início à carreira de coreógrafo enquanto continuava como bailarino. Ele ajudou a formar o que foi, talvez, a melhor ‘safra’ de bailarinos da companhia: Sylvie Guillem, Monique Loudières, Elisabeth Platel, Isabelle Guérin, Manuel Legris, Charles Jude, entre outros. Ele continuou a trabalhar até o final da sua vida, mesmo fragilizado com o avanço da doença. Suas versões de “Romeu e Julieta”, “Lago dos Cisnes”, “La Bayadère”, “Raymonda” e “A Bela Adormecida” são reeditadas com exatidão pela Opera de Paris até hoje. À época, ele disse que queria “retirar todo o creme chantilly que foi adicionado ao longo dos anos e retornar ao original das coreografias de Marius Petipa”. Deu certo!

Mais perfis:

Darcey Bussel

Carlos Acosta e sua “Carmen” reestilizada

O bailarino e coreógrafo (e deus!) Carlos Acosta divulgou nas redes sociais dele que nesta quinta-feira, 12/11, estreia o último trabalho dele no Royal Ballet. É ele quem dança e assina a montagem de Carmen, ballet que será apresentado junto com “Viscera”, “A Tarde de Um Fauno” e “Tchaikovsky Pas de Deux”. Um mix beeem eclético, fiquei até um pouco surpresa com essa vanguarda toda do Royal!

Agora é que vem o mais legal: a parte boa é que essas apresentações serão transmitidas, ao vivo, para cinemas do mundo todo (como já aconteceu com produções do Bolshoi, Mariinsky e do próprio Royal). A parte ruim é que o Brasil ficou de fora. Na América do Sul, só vai passar na Argentina e no Uruguai 😦

Além de ver a montagem de Acosta (e ele dançando com a diva Marianela Nuñez), queria muito assistir “Viscera”, de Liam Scarlett, uma coreografia muito intensa e com movimentos bem amplos. Fiquei interessada graças ao ensaio com Laura Morera transmitido no World Ballet Day – e é ela mesma quem vai dançar. (Escrevemos sobre todos as companhias que participaram, aliás! Se quiser dar uma olhadinha, clica aqui!)

Agora é esperar (e torcer!) que essa apresentação vire DVD! Por enquanto, temos esse ‘aperitivo’ que o Royal preparou:

 

O ensaio de “Viscera” no World Ballet Day você assiste aqui.

Osipova e Polunin: do palco à vida real!

Osipova e Polunin: química fora dos palcos também! Foto: Guardian
Osipova e Polunin: química fora dos palcos também! Foto: Guardian

Extra, extra! Eis que os rumores se mostraram reais e Natalia Osipova e Sergei Polunin são, oficialmente, o casal mais badalado do mundo do ballet clássico.

Os dois confirmaram tudo nessa semana*, e disseram que gostariam de dançar juntos mais vezes – no início deste ano, o principal do Stanislavsky e a primeira bailarina do Royal Ballet (e ex-mulher do também bailarino Ivan Vassiliev) dividiram o palco numa produção de Giselle no italiano La Scala.

Até então, parecia difícil ver o casal junto nos palcos novamente, porque as companhias clássicas estariam reticentes em deixá-los dançar. Mas eis que os dois anunciaram um projeto contemporâneo e vão estrear em junho de 2016 no Sadler’s Wells, na Inglaterra, com “Hotel Flamingo” – um trabalho de Arthur Pita baseado em “Um Bonde Chamado Desejo”. Osipova interpretará Blanche e Polunin será Stanley.

Animados? 🙂

*As informações são da Pointe Magazine

Uma ajudinha para girar

Se você é que nem eu, não tem muita facilidade com giros. Então, qualquer ajuda é super bem-vinda, certo? Nesse vídeo da Kathryn Morgan (a gente avisou que vinha mais coisa dela por aqui!), o foco é fazer com que você encontre seu eixo e se mantenha nele até decidir tocar o chão com os dois pés. E quem não gosta de pirueta sabe o quanto isso é difícil.

Vamos lá: o vídeo é em inglês e não tem legendas (vamos ver o que podemos fazer em relação a isso no futuro), mas o básico que ela mostra é aquilo que a sua professora /seu professor fala: abdome contraído, rélevé forte e braços bem presos. E cabeça rápida. E passé alto… Mas calma que tem mais. A série de 1/4 de piruetas antes de começar a girar, de fato, ajuda MUITO no eixo. Agora, a dica mágica para mim é contar as piruetas de trás para frente. Em vez de um dois três, conte três dois um (ou dois um). Não sei se é só psicológico, mas que fez muita diferença para mim, isso fez.

Outra dica – essa é de Felipe! – que funcionou DEMAIS para mim é pensar em subir antes de girar e ‘furar’ o chão. Pode parecer maluquice, mas quando você pensa em colocar todo o peso de seu corpo no dedão, parece que o eixo vem com mais facilidade. Gostou? Tenta aí!